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10 Canções que soam melhor ao vivo - por Daniela Coutinho

Gravar um disco em estúdio é sem dúvida um momento fulcral para qualquer banda, não deixando de ser uma obra única que fica para a posteridade, mas são as actuações ao vivo, livres de todos os arranjos, que definem muito do que a música significa. A comunicação, a ligação entre músicos e, também no caso dos músicos a solo, a interpretação de algo que se quer maior do que eles são. Quando se tem a sorte de assistir a momentos assim, não se consegue fugir da intensidade, quase cinética, que define estas versões "em tempo real" e o quão preciosas são, tendo sempre em conta a sua condição mutável.


1. "Dorian", Agnes Obel (Berlin Live Sessions) [2013]
Parte de um punhado de grandes vozes nórdicas, a dinamarquesa Agnes Obel tem o dom de dourar as suas performances ao vivo com uma delicadeza imensa, o que as transforma em autênticas pérolas que brilham ainda mais do que as suas versões em estúdio. É o caso da enigmática "Dorian" do seu último album "Aventine", nestas deliciosas Berlin Live Sessions.

2. "Eyes To The Wind", The War On Drugs (KEXP, Seattle) [2014]
Não há elogios suficientes para o último álbum destes senhores, o "Lost In the Dream" é realmente muito bom, mas o facto é que as performances ao vivo dos The War on Drugs são tão melhores, que me parece ser uma optima ideia gravar-se um disco com uma compilação de todas elas. O solo de guitarra no final desta "Eyes To the Wind" ao vivo na rádio KEXP, é um dos extras aos quais não se tem direito na sua versão em estúdio.


3. "Golden Hair", Slowdive (Pitchfork Festival, Chicago) [2014]
Ver os Slowdive ao vivo no último Primavera Sound foi realmente um dos momentos mais esperados por mim (que valeu completamente todo o entusiasmo), mas esta performance de "Golden Hair" em particular no Pitchfork Festival tem um poder hipnótico tão grande que gostava também de lá ter estado, só para sentir na pele todas as notas. Bravo, Slowdive.


4. "Smother", Daughter (KEXP, Seattle) [2013] 
E eis que a rádio KEXP nos presenteia com mais um momento de "wow!", neste caso protagonizado pela banda Daughter que tanto dá que falar no Reino Unido. É com a "Smother" que os Daughter nos invadem e sabemos que não estávamos preparados quando nem o próprio locutor consegue formar uma frase no final. (A minha admiração constante para com os tão esquecidos ténicos de som - parte tão essencial num concerto ao vivo - neste caso para Kevin Suggs).


5. "Love Be Brave", Laura Marling (Shepherd's Bush Empire, Londres) [2013]
Laura Marling trouxe-me o disco que mais ouvi em 2013, o "Once I Was an Eagle". Nele estão canções inesquecíveis como "Love Be Brave" e que aqui ganha uma vida diferente, centrada numa voz grave mas doce e num dedilhar ruidoso, mas que nos parece acariciar. Render-nos, torna-se a solução mais sábia.


6."Astronomy Domine", Pink Floyd (Earls Court, Londres, "Pulse") [1994]
Tantas são as escolhas de grandes performances ao vivo desta banda. Podia ter sido "certeira" e ter escolhido qualquer canção do "Live At Pompeii" de 1972, mas decidi seleccionar um tema em particular do enome, enome album ao vivo "Pulse", que reúne os melhores momentos da sua Division Bell Tour durante o ano de 1994. "Astronomy Domine" é sem dúvida um dos temas mais marcantes deste album. Trata-se de uma viagem no tempo alucinante, através de uma obra de arte psicadélica de Syd Barrett que já não era tocada desde os anos 70 e que reúne em poucos minutos aquilo que eu considero um tributo justo ao génio que Syd foi décadas antes. (Palavras para descrever a guitarra de David Gilmour? Sempre poucas. Perfeição!)


7. "Helpless", The Band com Neil Young e Joni Mitchell (Winterland Ballroom, São Francisco - The Last Waltz) [1978]
Ver o dvd (partilhado com o meu pai) "The Last Waltz" de Martin Scorcese, significa que se tem de ter lenços para a eventual lágrima e do suspiro em forma de "quem me dera lá ter estado". Momentos como esta rendição maravilhosa da "Helpless" de Neil Young, por The Band e com a ajuda nada menos que preciosa de Joni Mitchell (como se não bastasse). Que se pode querer mais?


8. "The Way That Young Lovers Do", Jeff Buckley (Live at Sin-é, Nova Iorque) [1993]
Se há discos ao vivo que merecem o seu próprio altar, este é um deles. É caso para libertar um "Minha Nossa Senhora que isto é incrivel". E neste tema em particular Jeff Buckley faz algo que eu achei impossível, que é ir buscar uma das canções de "Astral Weeks", esse outro grande monumento musical de Van Morrison e construir, sozinho, num bar minúsculo em Nova Iorque (apenas com uma guitarra - sim), uma performance inacreditável. "The Way Young Lovers Do" são 10 minutos de absoluta perfeição, não há outra forma de o colocar. Bolas. É morrer e voltar a nascer. 


9. "Ain't Got No, I Got Life", Nina Simone (Live Audience Recording Sessions, Londres) [1968]
Nina Simone não precisa de justificação. Nina Simone foi extraordinária em tudo o que fez. Nunca seria uma excepção estas Live Audience Recordings em Londres, nas quais estiveram na assistência pessoas que todos nós gostávamos de ter sido, só para ter presenciado momentos tão incríveis como este. 


10. "Lapidu na Bo", Mayra Andrade (Studio 105, Maison de la Radio, Paris) [2010] 
Ouvir Mayra é deixar de controlar os pés, os ombros, as ancas. Dançar de olhos fechados e sentir todas as texturas, ritmos e versos quentes, que desenham (o tão seu) Cabo Verde. "Lapidu na Bo" veste-se de cores vibrantes, pintadas pela voz doce de Mayra Andrade, pela guitarra de Munir Hossn, pelo contrabaixo de Rafael Paseiro e pela percussão de Zé Luís Nascimento. Oh, maravilha. 

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(The Band com Neil Young - The Last Waltz, 1978)
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