Com tecnologia do Blogger.

10 Canções de Cabeceira - por Patrícia Raimundo

Pôr qualquer coisa a tocar é quase um ritual sem o qual se torna bem mais difícil adormecer. Tudo fica melhor com música – e dormir não é excepção. Por isso há discos que, literalmente, não saem da minha mesa-de-cabeceira há anos e há canções que não se prendem a peças de mobiliário e me têm acompanhado em viagens vividas ou sonhadas.

1. “I’ve Got a Crush on You”, Ella Fitzgerald [1950]

O duplo disco dedicado a Ella Fitzgerald da colecção BD Jazz é um caso sério de amor. Já fez parte da mobília de três quartos diferentes desde 2007, mais coisa menos coisa. Esta edição reúne pérolas, como esta, que foram a banda sonora de muitas noites, ora encostada à almofada, ora à janela de um autocarro. Não me canso de pôr a rodar, em repeat: basta-me o piano e a voz suave para me sentir em casa, onde quer que esteja.

2.“Good Song”, Blur [2003]

Na minha cabeceira – física ou imaginária – gosto de ter canções como esta: mais que uma “good song” é uma “comfy song”. Saído do excelente “Think Tank”, este tema tem tudo: a voz suja mas melosa de Damon Albarn, um instrumental etéreo q.b, bom para repousar a cabeça. “TV's dead and there ain't no war in my head” – pelo menos durante pouco mais de 3 minutos.

3. “Foge de Ti”, Lulu Blind [2001]

Dormir com o rádio ligado dá nestas coisas. Lembro-me de uma madrugada qualquer em que acordei ao som deste “Foge de Ti”. A canção enchia as minhas medidas de adolescente: uma mistura infalível de voz suja e rouca, que me dizia o que eu queria ouvir, com guitarras e letras também elas sujas e roucas. Quando consegui perceber quem me dizia para correr e fugir de mim às três da manhã – afinal, havia Donuts no céu – corri as pouquíssimas lojas de discos da zona e as secções de música dos supermercados todos até o encontrar: o disco do anjo-astronauta em fundo branco, o terceiro e último da discografia dos Lulu Blind, a banda que me deu a conhecer Tó Trips. Levei-o para casa e pousei-o na minha mesinha de cabeceira, de onde nunca mais saiu. 

4. “Longing to Belong”, Eddie Vedder [2011]

Quando ouvi o primeiro avanço para o delicado “Ukulele Songs” soube logo que o queria para disco de cabeceira - aquele conjunto de canções que sabe sempre bem ouvir, que faz companhia na noite e que reconforta. 

5.“I Think of You”, Rodriguez [1971]

Sixto Rodriguez foi protagonista de uma das histórias mais inacreditáveis da história da música popular. Mas histórias à parte, as canções de “Coming From Reality” (de onde sai este belíssimo tema) e de “Cold Fact” ganharam um lugar especial na minha colecção: isolam-se de tudo o que as envolve e as tramas que contam ganham um novo significado a cada audição.

6.“Marigold”, Nirvana [1993]

Um pequeno rebuçado de dois minutos e meio, escrito e interpretado por Dave Grohl. A canção original fazia parte de um projecto pré-Nirvana do guitarrista, mas é esta versão, que encontrei uma noite por acaso, ao vasculhar uma compilação de raridades e b-sides da banda de Kurt Cobain, que me cativou. Talvez pela simplicidade (teria algum significado oculto, pensei), pela forma como é sussurrada e o relógio parece – mesmo – andar mais devagar.

7.“Sozinho”, Caetano Veloso [1999]

Em 99 eu era, como muitas, uma pré-adolescente sonhadora, que passava as noites metida comigo mesma, com a música e as escritas. De 99 é também a versão de Caetano Veloso para a canção que, ainda hoje, me parece descrever de forma sábia a noite: a noite das perguntas que não esperam resposta, das divagações, dos desabafos, dos sonhos, dos planos e desejos secretos. A noite da solidão boa.

8.“Blue Bayou”, Linda Ronstadt [1977]

Para os personagens do filme “Dreamcatcher”, “Blue Bayou” é a canção que reconforta, que todos sabem de cor e que os acompanha sempre, por muitos anos que passem. Identifico-me com esse conforto, sobretudo quando ouço a versão de Linda Ronstadt: apesar de ser o canto de uma “worried mind”, a ideia que trespassa o tema é a de quem vislumbra um futuro mais risonho, num lugar idílico e familiar, onde barcos de pesca navegam ligeiros, onde não falta boa gente, um amor e amigos à espera. Casa, portanto.

9.“Corcovado”, João Gilberto [1960]

“Muita calma pra pensar e ter tempo pra sonhar”… Da minha janela entreaberta na noite não vejo só o Corcovado: vejo-me já velhinha, quem sabe a jogar golf em Miramar, o Senhor da Pedra a perder de vista. Ter João Gilberto e um violão à cabeceira basta para pôr fim a noites tristes e manhãs descrentes.

10.“Let it Be”, The Beatles [1970]

Dizem que a noite – ou a almofada – é boa conselheira. Mas, por vezes, tudo o que precisamos é de um chá levado à cama e uma voz familiar que nos diga que vai ficar tudo bem. 




< >

Sem comentários:

Enviar um comentário