Com tecnologia do Blogger.

10 Canções de Cabeceira - por Daniela Coutinho

A minha cabeceira enche-se de canções que chegaram a mim em tantos formatos... É uma cabeceira, acima de tudo, feita de sonhos. Sonhos em vinil, cassete, cd e mp3. Sonhos repetidos e adaptados a tantos momentos marcantes, sonhos sonoros que me acabam por definir. Estes são os temas dos quais não me canso, passem os anos que passarem. Estão lá, sempre acessíveis, junto à "mesa-de-cabeceira" ou à cabeceira da "cama" em qualquer playlist do dia-a-dia.


1. "Both Sides Now", Joni Mitchell [1969/2000]



Difícil descrever estes cinco minutos. Se há canções maiores que a própria música que lhes dá forma, esta é uma delas. Não há maneira de dissociar tanto da minha vida pessoal, tanto que foi pensado e repensado ao som de Joni Mitchell, especialmente, deste tema. Afinal não sabemos nada sobre a vida, nem aos 26 (idade com que Joni escreveu esta canção) nem aos 57 (idade com que lhe deu novos arranjos). Essa é a real conclusão, esse é o mantra que ela nos ajuda a repetir num misto de humildade e de respeito aos sonhos que afinal, independentemente de toda a experiência de vida e de todas as "nuvens" que nos limitam a visão, nunca são errados.




2. "Suzanne", Leonard Cohen [1967]

Desde criança que me pergunto de quem seria a Suzanne. Aprendi inglês muito cedo, aos seis anos, ao mesmo tempo em que aprendi a ler e escrever. Por isso foi muito cedo também que me debrucei neste poema maravilhoso e me deixei levar pela imaginação. A certo ponto, achei que a Suzanne era quem eu queria ser quando crescesse. Foram muitos anos a perguntar-me de como seria "tocar em alguém com a mente" ou de como se "viajava estando cego", mas nunca tive dúvidas de como seria um sol a pôr-se como "mel" - essa imagem foi constante e fez-me sorrir, imaginando que a Suzanne seria realmente a mulher perfeita para o "senhor Leonardo" e que certamente o tinha feito muito feliz (mais do que a outra Marianne cuja canção me irritava um pouco). O sorriso repetia-se a cada audição, mesmo quando mais tarde, bem mais tarde, percebi que a canção era afinal sobre um amor que nunca se concretizou.


3. "Thirty-Three", The Smashing Pumpkins [1995]

Longas foram as noites e debater-me sobre os males do mundo ao som do "Mellon Collie and the Infinite Sadness". Dos discos mais marcantes e mais 'companheiros' em épocas trágicas de adolescência e cujas canções, como esta, ecoam no coração incessantemente. Como conter aquela lágrima quando sabemos que todas aquelas palavras se aplicaram vezes e vezes sem conta? São versos como "I know I'll make it, love can last forever" que ajudam a criar legendas no nosso pesado álbum de fotos. Na cabeceira cabe o "Thirty-Three", ouvido sempre de sorriso rasgado e de olhos fechados. Que importa o amanhã? Afinal de contas, o "amanhã é apenas uma desculpa".


4. "Bookends", Simon & Garfunkel [1968]

Para estas canções de cabeceira, talvez escolhesse a "Bridge Over Troubled Water" bem mais facilmente, porque teve realmente um peso incrível na minha infância. Mas foi a "Bookends" aquela que ficou quase riscada no vinil, de tanto ter sido repetida até á exaustão. Às escondidas do meu pai e desajeitadamente, colocava o disco nesta faixa, abraçava a capa e deitava-me na carpete a observar o cortinado a esvoaçar pela janela. Lá fora apenas nuvens num imenso azul. 
Pais deste mundo, se querem que a infância dos vossos pequenos seja feliz, deixem aleatoriamente discos de Simon & Garfunkel espalhados pela sala e digam-lhes "não mexas aqui, isto é muito importante e é preciso cuidado". A ordem será ignorada, claro. Mas o cuidado emocional, acreditem, será mais do que assumido - e recompensado.


5. "Field Below", Regina Spektor [2006]

Sem dúvida entre as canções que mais me ensinaram sobre a vida. Entre notas de piano e voz tão doce, a Regina  mostrou-me carinhosamente, talvez, o que de mais feio há na dor, na perda.
Aos 19 e 20 anos sabe-se tão pouco sobre essas matérias e é quando se passa por rupturas tão profundas que se torna essencial ouvir algo que se reconheça e que, em vez de nos trazer mais para baixo, nos deixe simplesmente ficar ali no mesmo nível, pacientemente, até que recuperemos forças para levantar de novo.


6. "No Surrender (live in Toronto)", Bruce Springsteen [1984]

A minha lição Sprigsteeniana estava mais do que aprendida em tenra idade, mas foi aos 14 anos que descobri uma cassete perdida no quarto do meu tio Vítor, cassete essa repleta de pérolas de várias bandas dos anos 80, incluindo este tema de Springsteen numa versão acústica, ao vivo em Toronto. Sabia que essa cassete teria de ir parar às mãos certas, ou neste caso ao auto-rádio certo, que foi onde andou durante anos, integrando a banda sonora das viagens longas de família no Verão.
"No Surrender" deu-me muito mais do que esperava de uma actuação ao vivo, talvez apenas por isso tenha ficado de fora da minha lista anterior de "Canções que soam melhor ao vivo". A verdade é que esta versão comovente sobre amizade e promessas inquebráveis, acabou por emoldurar a minha família - e a minha vida. Nesta família cabem mais do que o Jorge, a Arménia e a Cláudia - cabem amigos e companheiros de estrada, que viverão sempre nas palavras desta canção.


7. "Neighborhood #4 (Kettles)", Arcade Fire [2004]

Lembro-me de ver os Arcade Fire pela primeira vez no Paredes de Coura, infelizmente não ao vivo e a cores, mas pela televisão em directo. Lembro-me da reacção dos comentadores ao assistir ao concerto, da reacção do público e da minha. Foi um concerto incrível. Apresentavam o "Funeral", primeiro disco da banda que entretanto fez 10 anos. Claro que passou a ser o disco mais tocado no meu modesto leitor de mp3. De todas as canções, a "Neighborhood #4 (Kettles)" sempre chegou onde as outras não chegavam. Talvez por me falar da importância da esperança e da confiança no processo (qualquer que fosse). Eram tempos de pressa, de impaciência e talvez aqui conseguisse parar, respirar fundo e perceber não só o que queria para a minha vida, mas também quem eu era naquele momento.


8. "Bird Gerhl", Antony & The Johnsons [2005]

Ter uma adolescência feliz é ter o privilégio de ouvir canções-diamante, como esta "Bird Gerhl", de coração tão grande e tão aberto ao que é puro, que dali só possa ter resultado um encontro musical que marcou uma vida inteira. Assumir que "Ok. Esta é uma das canções da minha vida. Sim eu sei que só vivi 18 anos, mas eu sei que é." Tinha razão: foi, é e será.
Que cabeceira alada, esta, ao som de Antony e de um mundo inteiro de emoções. Grata por poder voar.


9. "Landslide", Stevie Nicks [1975]

A "Landslide" guarda um lugar especial na minha cabeceira. Nesta canção estão guardados os desabafos e suspiros em relação ao tempo que escapa sem impedimento possível. Dores de crescimento, necessárias. Olhar para quem nos rodeia e deixar que a gratidão ao que é (mais do que ao que foi) nos acolha na queda provocada pelo reconhecimento feito em frente ao espelho.


10. "Shine on you crazy diamond", Pink Floyd [1975]

Este é um dos temas mais emblemáticos, misteriosos e envolventes que me lembro de ouvir, desde que sou pessoa. Já perdi a conta às vezes que o ouvi e do quanto me deixei ir em espiral por todas as suas linhas melódicas. É incontornável, o peso que discos como "Wish You Were Here" e "Dark Side of the Moon" têm em todo o meu historial de música... e esta canção em particular, funde-se com a minha cabeceira sem que eu tenha grande escolha.

----

< >

Sem comentários:

Enviar um comentário