Banhos de imersão são dos poucos luxos que uma casa pequenina e uma vida agitada urbana podem trazer de tempos a tempos. Neles entram corpos cansados e cinzentos, mas a metamorfose neste caldeirão mágico é feita de sais coloridos, poções bem cheirosas e canções maravilhosas que ajudam a relaxar e a sonhar.
1. "Since I've been loving you", Led Zeppelin [1970]
Digam que disserem sobre o suposto "roubo" ou "plágio" da parte do trio J.P.Jones, J.Page e R.Plant desta ou de outras canções monumentais no seu historial, a realidade é que mesmo havendo semelhanças melódicas entre a Since I've Been Loving You e outra canção perdida no tempo de outros autores, nem o guitarrista da cançao original chegaria alguma vez ao ponto de perfeição que Jimmy Page chegou com este solo de guitarra. Isto é para fechar os olhos e deixar que o corpo gelado aqueça gradualmente.
2. "Everybody Here wants you", Jeff Buckley [1996]
Falar de Jeff é muito difícil e a felicidade de existirem canções que dizem tudo sem que tenhamos de mencionar uma palavra, é motivo para me ficar pelo play e deixar que o resto faça efeito. Faça-se a espuma e acendam-se as velas. "Oh, I'm only here for this moment".
3. "You Go To My Head", Julie London [1967]
Suspiros, muitos - mas dos bons. A voz da Julie preenche qualquer vazio e aquece o coração a cada nota. Assim, qualquer banheira ganha asas.
4. "Slow Like Honey", Fiona Apple [1996]
Lembro-me muito bem de ouvir esta canção pela primeira vez e de constatar o poder que tem qualquer letra escrita pela Fiona. Esta em particular, ajuda a aumentar a temperatura e a abrandar o tempo numa espécie de câmara lenta em que todos os movimentos e sensações imediatas se deixam saborear, muito devagar.
5. "A Thousand Kisses Deep", Leonard Cohen [2001]
Palavras para quê? Apenas mais um dos inúmeros exemplos de canções de Cohen que vão directas ao coração. Para os momentos em que a cabeça precisa de mergulhar e ficar um pouco debaixo de água. A água ajuda a sonhar, mas também ajuda a acordar.
6. "Paradise Circus", Massive Attack [2010]
Os Massive Attack são mestres na arte de criar canções que ecoam na cabeça, anos a fio. Não interessa se já não as ouvimos há muito tempo, basta pensar durante 5 segundos e a canção surge na cabeça, como se tivesse sido acabada de tocar. Esta "Paradise Circus" é mais uma dessas tatuagens melódicas. O seu ambiente intrigante e misterioso combina com banhos que se querem profundos, muito mais do que estes poucos centímetros de água.
7. "Sonho dos Outros", Bernardo Sassetti [2002]
O talento do Bernardo era extraordinário e a capacidade que tinha de colorir tudo, apenas com notas, é algo que ficará connosco para sempre. Este "Sonho dos Outros" do incrível "Nocturno" é como um livro que alguém nos emprestou sem prazo e que ainda tem o cheiro do seu dono, assim que o abrimos. Há banhos assim, perfeitos.
8 "Into Dust", Mazzy Star [1993]
A voz da Hope Sandoval mistura-se com aromas e com a água que se evapora, como por magia. Para os banhos sem espuma, cuja superfície da água se confunde com um espelho, no qual se pode deixar entrar completamente. Sem preocupações porque quando se regressar à tona, respirar-se-á melhor.
9. "This Love", Craig Armstrong & Elizabeth Fraser [1997]
Quem me conhece sabe do meu amor assumido à voz de Elizabeth Fraser. Não há nada de igual neste mundo e poder tê-la como banda sonora de tantos momentos na vida, é um privilégio que se valoriza a cada segundo. Esta é uma das canções que mais toca em playlists minhas. O que não se explica, sente-se apenas. Este transforma-se num banho introspectivo no qual se vão revelando respostas para questões que se pensou serem impossíveis de responder.
10. "A Última Bossa", Aline Frazão [2013]
Que disco maravilhoso, este "Movimento". A voz da Aline abraça e reconforta e esta "última bossa" é precisamente para sorrir aos dedos enrugados, sair do banho feliz e com todos os sonhos protegidos pelo toalhão.
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