10 canções para road trips - por Daniela Coutinho

As estradas nunca foram medidas pelos kms percorridos, mas sim pela música. Há um sentimento de libertação em qualquer road trip e que bom é ter sempre banda sonora a emoldurar todas essas viagens. As minhas preenchem-se com autênticos coros a cinco vozes (e às vezes só pela minha), improvisados e com volantes que afinal são instrumentos de percussão. Tudo isto para acompanhar o que não deixa ser mais uma lista exemplificativa de canções que ilustram a minha vida. Preparados?

"Out On the Weekend", Neil Young [1972]

Este "Harvest" é mesmo um dos discos da minha vida e o melhor é que começa com este tema incrível que foi ouvido e re-ouvido em inúmeras viagens de família. Canção simples e com uma ingenuidade melódica tão adorável que acaba por se tornar indispensável em qualquer road trip e em todos os seus momentos relaxantes, com um horizonte solarengo pela frente.

"Drive", R.E.M. [1992]

Para as viagens sem destino e a solo (como tantas as que faço) este tema não faltará no meu humilde rádio. A 'Drive' é introspectiva e invasiva, é para ser ouvida com o volume bem alto, o telemóvel é para se desligar e  há que conduzir, conduzir, conduzir.

"Hey kids, rock and roll

Nobody tells you where to go, baby"

"Go Your Own Way", Fleetwood Mac [1977]

Das canções para se berrar estrada fora. Aliás, podia fazer-se uma playlist com 10 canções para se berrar dentro de um carro, todas pelos Fleetwood Mac. Esta merece um coro especial daqueles de envergonhar condutores alheios nos semáforos. Acompanham-me?

"Road to Nowhere", Talking Heads [1985]

Um caso sério de amor, é o que se passa entre mim e esta canção...Primeiro são aqueles versos arrepiantes cantados "a capella" e depois é toda uma celebração de vida protagonizada pelo imparável David Byrne. Vamos. Para onde? Não sei, mas vamos! Vamos! Liga-se o motor, mete-se a primeira. Há que sorrir e ir (porque o momento é agora, meus amigos, "and it's alright")!

"I Can't Escape Myself", The Sound [1980]

Os momentos em que se quer agitar tudo, quebrar, sair. Uma road trip bem pleaneada tem de ter canções de revolta, porque é na estrada que se vão largando as inúmeras frustrações que pesam demasiado. Os The Sound conseguem musicar este grito interno num tema incontornável e icónico. Há que parar de tentar fazer sentido e seguir, seja para onde for, com a mão contra o vento.

"Nowhere Fast", The Smiths [1985]

Sim, olhando para o título, pensa-se logo nos Fire Inc. (com esse tema tão entranhado nos meus guilty pleasures), mas são os Smiths com uma canção maravilhosa que me remete imediatamente para mais uma road trip de emoções fortes. Entoar a letra inteira e saber que se está a ir na direcção certa - mesmo que o destino não seja o que mais se deseja. "Meat is Murder" no seu altar muito bem velado!

"A Dream Of You And Me", Future Islands [2014]

(Tentar escrever este texto sem chorar por ter perdido o concerto fantástico que deram o mês passado no MusicBox ou no HardClub). Há que admitir. Estes senhores encheram 2014 com canções incríveis. No meu carro, mesmo sem o rádio (que foi roubado há uns meses) dou por mim a cantarolar a "Seasons (Waiting on You)" ou esta "A Dream of You and Me", sozinha e com todos os instrumentos bem afinados na minha cabeça. Esta é uma roadtrip entre o trabalho e casa, mas é válida, tal como a sua banda sonora.

"Further On Up The Road", Johnny Cash [2003]

Não, meus caros, não pensem que é aquele blues velhinho em que o Eric Clapton pegou e com o qual fez abanar tudo no Last Waltz com os The Band. Também não é o Bruce Springsteen, embora este tema seja realmente dele, gravado em 2002. É o Johnny Cash que, independentemente das décadas que tenham passado, mais uma vez, chega, senta-se, pega na guitarra e faz-nos esquecer se há canções com o mesmo nome e originalmente de outro intérprete ou  esquecer-nos até do nosso nome do meio. Daquelas rendições esmagadoras, em que as tonalidades criadas são de uma riqueza imensa. Diria que todo este disco, infelizmente póstumo, é perfeito para uma roadtrip repleta de alma, ou não se chamasse "American V: A Hundred Highways".

"Summertime", Ella Fitzgerald [1968]

Canções eternas por vozes eternas, em Verões inesquecíveis. Janelas abertas, calor, os pés em cima do porta-luvas. O mar lá fora e uma sensação de liberdade imensa. Não fazer absolutamente mais nada, senão, suspirar longamente com as carícias da Ella.

"A Gente Vai Continuar", Jorge Palma [1991]

Não interessa o tempo que passe. Este é um hino à vida, à continuidade, ao amor. Somos nós, nesta viagem e lá fora, são as memórias que vão ficando espalhadas pelo chão brilhante. A estrada não termina, por isso, continuemos.

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